segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Síndrome do Recém-nascido

Hoje vou falar-lhes da Síndrome do Recém-nascido. Possivelmente apenas alguns amigos meus ouviram falar da doença, já que eu sou o ‘padrinho da criança’. Quanto ao pai, esse somos todos nós, pois trata-se do filho da pua do hábito que os automobilistas portugueses têm de virar a cara para o lado oposto ao do peão que atravessa a passadeira na rua na esperança de, ao não verem o dito, também este o não veja a ele. Execrável hábito, acrescente-se!

Veio-me este assunto à cabeça a propósito de uma brincadeira que a minha filhota de dois anos, a Leonor, tanto gosta de fazer: esconde-se atrás da porta – embora com o corpo completamente à vista – tapa os olhitos com uma das mãos e pergunta, na sua vozita aflautada: – A ‘Lônôoor’? E nós entramos no jogo, fazemos que não a vemos e vamos, ‘muito aflitos’, à procura dela. Uma risota…

É assim também com os recém-nascidos, se lhes taparmos os olhitos eles, deixando de nos ver, pensam que não os vemos a eles também.

Daí eu ter baptizado esta péssima demonstração de falta de civismo por parte dos automobilistas portugueses de Síndrome do Recém-nascido: – Olho para o lado, não o vejo, logo ele não me vê a mim. Quanto engano, quanta estupidez!

A 'doença’ seria de fácil tratamento se não estivéssemos em Portugal. O peão – que vê o automobilista apesar de este imaginar o contrário – ao ser vítima de uma situação dessas tomaria nota da matrícula do automóvel, faria queixa às Autoridades competentes, estas enviariam a ‘receita’ para casa do ‘paciente’ e este iria pagar o ‘medicamento’ solícito e resignado, ciente de que estavam a contribuir para o seu bem estar e o dos seus. Ao cabo de duas ou três reincidências, no máximo, estava ‘curado’ e agradecido.

Mas estamos em Portugal. E não há português que não tenha ‘o rabo preso’, que não tenha culpa no cartório. Em termos de infracções à Lei todo o português é maneta e a mão que lhe resta suja-se com demasiada frequência daí que pense: – Vou acusar aquele palerma e depois outro e mais outro ainda logo à tarde e sei lá mais quantos até ao final da semana, já que estamos em Portugal, e depois quem me ajuda a lavar a minha mão, se sou maneta e uma mão é que lava a outra? Nãaa!... Vou ficar mas é quietinho e esperar pela minha vez. Agora vou a pé, mas logo mais vou ter que ir de carro e aí logo me vingo: se apanhar o fulano faço-lhe a mesma coisa! E se não for a ele é a outro, que dá no mesmo.

Assim se pensa em Portugal: ao contrário, pela negativa. Custa-nos a admitir as nossas culpas, os nossos erros. O mal é sempre dos outros; os outros é que são isto, os outros é que são aquilo e aqueloutro… Eu?! Eu sou um santo… Mentira! Se há um problema ele é causado por ‘nós’ e é por ‘nós’ que deve ser encarado e debelado (não contornado).

Devemos falar dos problemas que nos afligem sempre na primeira pessoa, do plural se forem colectivos. Reparem que não me excluo deste assunto. Sou português e afirmo no início deste texto que “Quanto ao pai, esse somos todos nós”, ora ‘nós’ sou eu também. Mea culpa, mea culpa.

Urge iniciar o tratamento desta maleita pois outras Síndromes muito mais graves enfermam Portugal colocando-nos na cauda da Europa – a 27, já!(?!)
Conto Convosco!...
L.P.

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