segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

domingo, 30 de dezembro de 2007

Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX(I)

Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva.”

É desta forma que Almada-Negreiros dá início, há precisamente 90 anos, ao seu «Ultimatum Futurista».

Artista e escritor polifacetado, José de Almada-Negreiros nasceu a 7 de Abril de 1893, em S. Tomé e Príncipe, e morreu a 15 de Junho de 1970, em Lisboa.

Publicou o «Ultimatum» a 17 de Dezembro de 1917 no número único da revista "Portugal Futurista" mas, como o mês de Dezembro só termina amanhã, entendi que ainda está dentro do prazo para assinalar o nonagésimo aniversário da sua publicação.

O texto está impregnado do espírito Futurista, que se iniciara em 1909 com o manifesto de Filippo Tommaso Marinetti publicado na revista Le Fígaro.

Após a sua leitura terão oportunidade de constatar o quanto ele está actualizado. Mais, o quanto as suas palavras são intemporais.

Estive tentado a colocar aqui o texto integral do ULTIMATUM FUTURISTA de Amada-Negreiros. Mas, por dificuldades que se prendem com direitos autoriais, resolvi mudar de estratégia e colocar um ‘link’ que permitirá aos meus digníssimos visitantes ter acesso ao referido documento – excelentemente apresentado por uma belíssima introdução a qual, confesso, traduzindo o meu pensamento eu não conseguiria fazer melhor. Há males que vêm por bem.

Para ler o texto na integra basta clicar aqui ou na imagem seguinte:

"Auto-retrato com Boné", óleo sobre tela
de Almada-Negreiros, c. 1927

Ao soarem as 12 badaladas, assinalando a passagem do ano, beberei uma tacinha de espumante à memória de Almada-Negreiros.

Um voto de esperança no FUTURO.
L.P.

sábado, 29 de dezembro de 2007

MAGIA!...

O Texto que se segue é apenas uma singela, mas merecida, homenagem à minha querida amiga Paula Estela (que seguramente me vai dar uma grande tareia depois deste meu arrojo).

Há uns meses atrás – em Maio de 2007 – visitei e comentei o seu blogue (http://assim_sou_eu.blogs.sapo.pt/) sob o apelido de joca – recomendo a todos que visitem porque vale a pena. Até hoje a Paula não sabia quem era o joca (desconfiava, acho eu, pela maneira de escrever, mas não sabia. Não é para me gabar mas guardar segredos é comigo).

Após uma longa troca de palavras a Paula desafiou-me a colocar um poema no seu blogue. Aceitei o desafio.

Porque o tema é MAGIA, e porque desejo a todos um ano 2008 MÁGICO, transcrevo o comentário que coloquei no blogue da Paula:

«Pedes-me um poema mas eu não sei poetar.
Para tal é necessário ter um coração selvagem, indomável e o meu, coitado, há muito que foi domado pela malvada 'razão'. Pobre coração sensível subjugado pelo carrasco racional. Uma tristeza, enfim.

Mas sugeres-me, igualmente, que posso deixar 'algo' escrito, se quiser. Ora 'algo' é coisa que está mais ao alcance da minha escrita prosaica.

Então, sem querer protagonizar mais um momento de inquietação enigmática, deixo-te estas singelas palavras. 'Algo' simples mas tão carregado de sentimento quanto o meu 'algoz' mo permitiu:

Paula,
Encanta-te a magia?
Óptimo…
Então contenta-te com extasiar-te na contemplação dos seus mistérios…
Não queiras saber como se processam todos os truques de magia pois eles perderão o encanto para ti…
A magia perde-se quando conhecemos o seu truque, a sua técnica.
Magia é dúvida, é sonho, é desconhecido, é aventura, é atrevimento, é um eterno devir;
É potência criadora, acto contínuo, dialéctica racional, emoção desgovernada;
Magia é tudo, é nada, tudo que nasce de nada, o nada em que tudo acaba…
Se não soubermos gozar a magia como ela é e deixá-la onde ela está…
Lá, entendes-me? lá… Se não soubermos, perdemo-la!
A magia deve estar e ser – para não se perder – intocável, insondável, inquestionável…
A magia goza-se, é gozo, é espanto, é surpresa, é medo, é receio, mas é também temeridade, audácia, arrojo, imprudência…
A magia vive-se, é vida, é prazer, é êxtase, é enlevo, é transe, é arroubo de paixão…
Assim és tu… magia perdida… magia renascida…
… MAGIA …»

Agora que revelei a verdadeira verdade (salvo o pleonasmo) à minha amiga Paula Estela, concluo com um desejo. Um enorme desejo:

Que as 00:00 horas do ano 2008 constituam o renascer profícuo da MAGIA no coração de TODOS NÓS.

BOM ANO MÁGICO – 2008


L.P.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Mãos que não dais, o que é que esperais?!...

Está a chegar ao fim o último mês do ano: Dezembro – o mês do Natal. É seguramente o mês mais desejado por todos nós. O ambiente nas ruas não deixa ninguém indiferente. É, por isso, normal que a nossa memória nos traga ao presente recordações do passado.

Há dias, enquanto conversava com os meus pais (que me visitaram para os baptizados da minha filhota Leonor e do meu filhote Leonardo) recordamos algumas peripécias da minha infância.
Uma das histórias mais engraçadas passou-se há muitos anos, embora o protagonista tenha sido o meu irmão. Foi há trinta e poucos anos, por alturas do Natal.

O meu irmão estava naquela idade de teimar que o Pai Natal não existe e eu, agora que penso nisso, sinceramente, nem me aquecia nem me arrefecia, ou seja, não estava nem aí. Vindo as prendas, ficava agradecido e tanto se me dava que as tivesse trazido o Pai Natal ou a Mãe Natal ou a minha mãe ou o meu pai. Tanto se me dava. E se não houvesse prendas também não me afectava. O Natal para mim, mais do que as prendas, era o cheiro do musgo que íamos apanhar ao mato para fazer o presépio; o pinheirinho que escolhíamos e que ao ser cortado largava aquele aroma agridoce da resina fresca e jovem; era o boneco de neve que fazíamos nos campos – por esta altura eu morava em Figueira de Castelo Rodrigo e garanto-lhes que nevava todos os anos pelo Natal – e as boladas de neve que atirávamos uns aos outros no meio de uma algazarra de gargalhadas infantis e inocentes – e algumas imprecações, também, quando alguma bola de neve nos atingia em sítios menos agradáveis –; era o cepo enorme que ardia durante mais de uma semana na eira e à volta do qual todos os vizinhos se juntavam para confraternizar, de noite ou de dia; numa palavra o Natal era, para mim, ALEGRIA E SOLIDARIEDADE.

Naquele ano o meu irmão (mais velho do que eu vinte e sete meses) cismava com a minha mãe que o Pai Natal não existia, que eram os nossos pais que punham as prendas, etc. Andava mal-humorado, desobediente, preguiçoso, refilão. Eram coisas que ele ouvira lá na escola. E não queria fazer figura de parvo ele ‘com aquela idade’ acreditar no Pai Natal quando ‘todos sabiam’ que isso era ‘balela de crianças’.

A minha mãe avisava-o: – Olha que Jesus castiga-te!
Mas ele não fazia caso. Sabia a verdade e pronto. A verdade é que, apesar de toda essa sua nova crença, o meu irmão fez a sua lista de pedidos ao Pai Natal, tal como eu e como nos anos anteriores. Mistérios!... Pois se não acreditava nele, porque lhe endereçou o pedido?! Coisas de crianças…

Na noite de consoada, como todos os anos, deitamo-nos cedo pois não tínhamos o hábito de ir à Missa do Galo. Queríamos era que ele (o galo) se deitasse cedo também, para que madrugasse a cantar a alvorada dando-nos o sinal de que podíamos ir ver as prendas que o Pai Natal nos trouxera. Coisitas sem grande valor, mas prendas de enorme importância. A importância que nós tínhamos para alguém que vinha de tão longe de propósito para nos dar algo, em nossa casa. Em nossa casa, reparem bem, em nossa casa. O Pai Natal não passava pela multidão e atirava as prendas à rebatinha! Não! Ele vinha à nossa casa de propósito para nos entregar as 'nossas' prendas. Essa era a importância, esse era o valor: o da nossa existência.

Não me lembro quais foram as minhas prendas nessa madrugada de Natal. Mas lembro-me da prenda do meu irmão. E ele lembra-se também. Pudera!... Uma cebola! Isso mesmo, uma cebola no sapato! E sem direito a embrulho. Pintou o diabo. Chorou, refilou, atirou com a cebola ao chão com violência, batia o pé, e chamava a minha mãe de 'Má!’ e esta, com a sua calma habitual, esperou que se ele acalmasse e disse-lhe assim:

– Olha, meu filho, eu avisei-te. Eu disse-te que Jesus te castigava por não acreditares no Pai Natal. Não me deste atenção e desrespeitaste O Senhor com a tua arrogância. Há um ditado que diz: “Mãos que não dais, o que é que esperais?”.

O meu irmão passou a dar mais ouvidos à minha mãe e a receber de novo prendas no Natal.

Desta lição eu concluo que devemos estar sempre dispostos a dar o melhor de nós sem olharmos a quem. A alegria do nosso semelhante, proporcionada pelas nossas acções, é a melhor dádiva de Deus para nos retribuir...
Desejo a todos um Santo e Feliz Natal
L.P.

sábado, 15 de dezembro de 2007

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Bit Car

Após 14 anos a rumar diariamente à cidade do Porto para trabalhar (e mais 3 na Capital, Lisboa) começo a ficar cada vez mais convencido de que o Mundo vai acabar à Estalada.

As pessoas amontoam-se em grandes aglomerados urbanos atraídos como que por uma irresistível força invisível. Automóveis de alta cilindrada, capazes de atingir velocidades fenomenais de 250 km/h, ficam horas parados ou movendo-se a passo de lesma nas artérias das cidades devido ao congestionamento do tráfego. Os transportes públicos circulam vazios (ou quase) já que é mais cómodo o transporte privado. É que, nos dias que correm, sinal de pobreza não é não ter pão em casa para comer: é não ter carro próprio para levar para o trabalho. O stress toma conta dos citadinos. Impera a anomia social. Por dá cá aquela palha as pessoas insultam-se umas às outras.

Para obviar a esses inconvenientes, Franco Vairani e o MIT – Massachusetts Institute of Technology, desenvolveram um minúsculo e original concetp car capaz de resolver alguns problemas de tráfego nas grandes cidades (e nas pequenas também): o Bit Car.
É um pequeno veículo eléctrico, de dois lugares, que se encarta como os carrinhos de bebé e arruma-se como os carrinhos de supermercado.

Colocados em pontos estratégicos das cidades, como Interfaces Rodoviários, Estações de Metro ou Comboio, Portos e Aeroportos, Centros Comerciais e Hipermercados, Parques de Lazer e CBD – Central Business District (comummente conhecido por “Baixa”, nas nossas cidades) seriam uma enorme ajuda para diminuir a entrada de veículos particulares nas cidades e reduzir (ou eliminar completamente) o congestionamento do tráfego citadino.
É só entrar no veículo que estiver mais próximo, introduzir um cartão de crédito ou débito e arrancar.


Clique na Imagem abaixo e observe um pequeno Video para ver se fica convencido(a).

(Interior do Bit Car)

Espero que estas pequenas maravilhas cheguem a Portugal antes de me reformar. É que à estalada não me safo!...
L.P.

P.S.: Imagens e autorização gentilmente cedidas por:
Franco Vairani
Massachusetts Institute of Technology
77 Massachusetts Ave.
Room 10-491M
Cambridge, MA 02139
USA

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A janela do Hospital…

Num hospital do interior do país havia dois pacientes incapacitados que partilhavam o mesmo quarto. Um deles a rondar os trinta e cinco anos e o outro, mais jovem, com doze anitos apenas.

O mais velho fora ali parar após um acidente de Mota que o paralisara da cintura para baixo e há sete meses que estava naquele quarto de hospital.

O mais jovem sofria de asma e ficara tetraplégico após uma meningite que por pouco lhe não ceifou a sua jovem vida e era o locatário mais antigo do hospital. Há ano e meio que dera entrada nas Urgências daquela unidade hospitalar e o seu débil estado de saúde não lhe permitira ainda regressar ao seu lar, para junto dos seus pais e irmãos.

Ambos eram sobejamente conhecidos em todo o Hospital por razões diversas. Tinham feitios bastante peculiares mas completamente opostos. O mais velho era irascível e grosseiro ao passo que o jovem era alegre e portador de um coração extremamente bondoso.

Como estava ali há mais tempo, o jovem ocupava a cama junto à janela o que lhe proporcionava uma vista parcial para o exterior. E como era bondoso ia relatando tudo o que via ao seu companheiro. Este, no entanto, nunca se mostrava contente com nada do que lhe contava o jovem.

Se eram crianças que jogavam à bola ou à cabra-cega, ele achava que havia coisas muito mais úteis que eles deviam fazer, como guardar cabras; se lhe contava como dois jovens apaixonados se beijavam e se mimavam um ao outro num banco de jardim, ele achava tudo aquilo uma pouca-vergonha, um atentado ao pudor, etc; se era uma criança que ajudava o pai a pintar a fachada da casa, ele achava que era uma exploração de trabalho infantil e que o fulano devia ser denunciado às autoridades; se era um jovem que brincava de bicicleta enquanto o pai serrava lenha para aquecer a família nas noites frias de Inverno, ele achava que os ‘putos’ de agora são mas é uns mandriões e que não ajudam os pais nas tarefas domésticas; enfim, tudo o que lhe contava o jovem merecia críticas ferozes da sua parte.

Mas o que é um facto é que ele não só gostava daquelas histórias como precisava delas como do pão para a boca, embora o não demonstrasse. As críticas eram só o seu mau feitio a falar, a inveja que o corroía por não poder estar no lugar dos protagonistas. Quando o seu jovem companheiro estava muito tempo calado, a olhar para o exterior da janela com ar pensativo e triste, ele desafiava-o:

― Então, hoje não há namoradinhos?! Não há ‘ramelanço’?! E os putos? Hoje não jogam à bola?! Não há acrobacias ciclisticas?! Ah! se eu lá estivesse… eu é que lhes ensinava como é que se joga à bola… Como se faz um looping de bicicleta… Algum dia viste alguém fazer um looping de bicicleta?! Não, claro que não, são todos uma cambada de medrosos… E à gaja… eu dizia-lhe a ela… ia ver o que é um homem a sério e como se dá uma … à maneira…

E o pequeno para o não ouvir, começava a conta-lhe o que via: Um jardim muito bonito, com flores lindíssimas que eram tratadas amorosamente pela mais bela ‘princesa’ que ele alguma vez vira…

O mais velho calava-se por momentos – imaginando, talvez, como gostaria de ter essa bela ‘princesa’ nos braços e mostrar-lhe como se fazia, como se dava uma … à maneira – até que recomeçava com os seus remoques mordazes. Tudo para disfarçar a maldita inveja que o corroía.

Certa noite o pequeno teve um ataque de asma violento mas ao tentar carregar no botão de emergência, para chamar a enfermeira de serviço, não o encontrou e acabou por morrer por falta de assistência.

Com a morte do pequeno ficou vaga a cama junto à janela e no dia seguinte ela foi ocupada pelo companheiro mais velho.

Claro que ninguém suspeitava que o miúdo morrera por falta do botão que o seu companheiro de quarto lhe subtraíra o tempo necessário para ele sucumbir ao ataque de asma. Aquele lugar junto à janela tinha que ser seu e o miúdo não dava mostras de melhorar e sair dali. Se ele morresse, ficava com o caminho livre. E se bem o pensou melhor o fez. Uma noite, ao vê-lo cair em sono profundo, escondeu-lhe o botão, voltando a colocá-lo no seu sítio antes que alguém desse pela marosca.

― Finalmente – pensou ele, ao ver-se transferido para a cama junto à janela – vou poder ver com os meus próprios olhos as belezas que estão lá fora. O raio do pirralho já me andava a enervar com as suas lenga-lengas. Sabia lá ele o que é uma bela 'princesa' a sério… ou o que fazer com ela… Finalmente vou poder comer a ‘tua’ bela ‘princesa’, meu lindo… por hora com os olhos, mais tarde se verá!...

Instalou-se confortavelmente, pediu para lhe subirem a cama, recostou-se e, finalmente, com um raro sorriso nos lábios, malicioso, olhou para o exterior da janela com o intuito de regalar a vista.

Mas o que viu produziu nele um efeito mais devastador do que se tivesse sido fulminado por um raio. Nada do que a criança lhe contara correspondia à realidade. Daquela janela não se avistava mais do que um muro coberto de silvas e hera e, para lá dele, campos sem fim de matagais tão virgens como o âmago da Amazónia.

Recordo o que Bertrand Russel, Filósofo, Matemático, Crítico social e Escritor inglês do século XIX, afirmava a propósito da inveja:

“O invejoso, em vez de sentir prazer com o que possui, sofre com o que os outros têm”.

Talvez valha a pena pensar nisto!…
L.P.

3 de Dezembro - Dia Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiciência

Este é um daqueles textos que deviria ser colocado logo às primeiras horas do dia - para não dizer minutos. Confesso que a minha ignorância, nesta como em muitas outras datas comemorativas, contribuiu para o lapso.

Mas, como dizia o meu avô, mais vale tarde que nunca.

Comemora-se hoje, dia 3 de Dezembro, o Dia Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiciência e eu aproveito este espaço para saudar todos aqueles que se preocupam e apoiam com carinho pessoas nessa condição. Foi graças a pessoas assim que, curiosamente, tomei conhecimento da particularidade desta data.

Foi-me oferecido, e à minha família, por jovens da Cercifeira - Santa Maria da Feira, uns trabalhinhos da sua autoria e que eu tomei a liberdade de digitalizar e colocar aqui no meu Blogue. É a minha singela homenagem à sua bondade e um voto de esperaça na igualdade de oportunidades na escola, no trabalho e na integração social.


Feliz Natal a todos...
L.P.